Sofia Torres: “Na minha pintura interesso-me particularmente por provocar reflexões”

“Uncanny é o único sentimento que é experienciado de forma mais intensa na arte do que na vida”, afirmava Sigmund Freud, em 1919. Este conceito, que define a sensação de estranheza e inquietude sobre algo que nos é familiar, passou do papel para a tela pelas mãos de Sofia Torres.

Foi durante o seu doutoramento que a artista plástica desenvolveu esta exposição que agora ganha destaque no Silo – Espaço Cultural do NorteShopping, onde estará patente até ao dia 9 de julho (com entrada gratuita). Falámos com Sofia Torres sobre a sua ligação inquebrável com a pintura e sobre a influência do psicanalista Sigmund Freud na criação das obras que compõem “The Uncanny”.

 

Licenciada em Artes Plásticas, mestre em Pintura e doutorada em Arte e Design. Como é que a pintura surgiu na sua vida para a trazer até aqui?

O meu fascínio pela arte e, em particular, pela pintura surgiu desde muito nova. Como era uma criança irrequieta, o truque para os meus pais me sossegarem era com um lápis e papel. Bastava isso para ficar compenetrada e quieta a desenhar.

 

Da irrequietude da infância passamos para a inquietude que marca esta exposição, “The Uncanny”. Compor esta mostra foi, de certa forma, inquietante para si?

Seria impossível dizer que não. Aliás, foram cinco anos de trabalho absolutamente inquietante, ao longo de todo o doutoramento.

 

Em que consiste este conjunto de obras que agora apresenta?

Esta exposição consiste numa interpretação pessoal do conceito Uncanny, apresentado por Freud no texto “Das Unheimliche”, de 1919. Pretendo transmitir, de algum modo, essa sensação que temos perante determinadas situações – um sentimento que é um misto de algo que é familiar e agradável, mas que simultaneamente revela algo que estava escondido e que provoca medo e horror. Na minha pintura interesso-me particularmente por provocar reflexões sobre estados tangenciais: entre aquilo que é humano e animal, entre o racional e irracional, e agora entre aquilo que nos parece agradável e familiar, mas que simultaneamente provoca uma certa estranheza ou inquietação por algo que à partida não é revelado.

 

Quais os projetos para depois desta mostra no Silo – Espaço Cultural no NorteShopping?

Estou agora a desenvolver uma nova série de trabalhos que também abordam a temática animal e que conto poder apresentar por volta de dezembro deste ano. Tenho mais algumas exposições marcadas para breve e inclusive inauguro uma no dia 3 de julho, em Adelaide, na Austrália. Mas o mais importante para mim é poder ver, aprender e fazer pintura.

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