Paula Rego e a obra que conta a história da sua vida
Na exposição inédita em Portugal “Edgar Degas. No Mundo do Ballet. Com a participação especial de Paula Rego e de Helena de Medeiros”, patente no NorteShopping de 11 de abril a 30 de maio, cabe a uma das maiores pintoras portuguesas o papel de representar a dança sob um olhar muito próprio, o seu, onde a realidade e o imaginário ficcional facilmente se confundem.
Paula Rego traz até ao nosso Centro três obras datadas de 1996, em que bailarinas distraídas e distorcidas questionam o papel da mulher e a sua relação com o poder, e outra de 1988, “The Dance”, onde encontramos um exemplo de uma realidade tensa, mas aparentemente feliz, frequentemente retratada no trabalho de Rego.
Nascida em Lisboa, em 1935, e oriunda de uma família republicana e liberal com residência no Estoril, a artista estudou na St. Julian’s School em Carcavelos e deixou Portugal ainda na adolescência. Com o apoio do pai, partiu para Londres durante a ditadura de Salazar, para fazer os estudos na Slade School of Art, e acabou por se radicar na cidade inglesa há mais de 50 anos.
Na infância já pintava meninas a dançar com fatos de baile, mas afirmou numa entrevista que nunca sonhou ser bailarina. “Eu gostava de ter sido rapaz, não gostava de ser menina. Gostava de ser o Robin dos Bosques ou o Peter Pan, que voava pelas janelas”.
Na St. Julian’s School já lhe reconheciam o talento para o desenho e também a apetência para uma certa rebeldia. Mas foi apenas na Slade School of Art, como única artista mulher de um grupo que convivia com nomes de destaque da pintura como Francis Bacon, Lucian Freud, Frank Auerbach e David Hockney, que Paula Rego se começou a distinguir com uma obra fortemente figurativa e literária, considerada incisiva e singular pela crítica.
Nessa escola londrina, frequentou o curso de pintura, entre 1952 e 1956, e conheceu o marido, o artista britânico Victor Willing (1928-1988), com quem teve um casamento atribulado e três filhos, mas foi, sem dúvida, a sua referência e ligação imediata ao panorama artístico da época.
A menina que se tornou uma pintora que conta histórias, algumas da sua vida, outras inspiradas em livros ou filmes, mas sempre ligadas a acontecimentos que viveu, denuncia na sua arte a sua rebeldia e o seu papel inquisidor perante a sociedade: «Os meus temas favoritos são os “jogos” provocados pelo poder, o domínio e as hierarquias. Dá-me sempre vontade de pôr tudo de pernas para o ar, desalojar a ordem estabelecida».
Os seus quadros que estão expostos agora no nosso Centro e que podiam ser o retrato de meras bailarinas ou de bailados, afinal não o são. Têm esta vocação narrativa, na dimensão fantástica da sua pintura, de contar, de forma semi-codificada, histórias pessoais, biográficas, muitas delas das suas memórias de infância, disfarçadas de histórias conhecidas, como um conto de fadas ou um clássico literário.
Para ver, de 11 de abril até 30 de maio, no NorteShopping. Fique aqui com toda a programação do evento.
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