Fernand Léger: o homem precisa de cor (e de circo) para viver

Esqueçamos os animais enjaulados, os palhaços tradicionais e a tenda montada. Há um novo circo que lhe queremos apresentar: o de Fernand Léger.

“O homem precisa de cor para viver”. Se fosse necessário resumir a obra de Fernand Léger (1881-1955) numa só frase, esta seria seguramente uma das mais sérias candidatas. Citação que se confirma no seu percurso artístico, de alguém que nunca temeu nem a forma nem a cor. Pintor, escultor e realizador, considerado um dos mais famosos mestres cubistas e abstracionistas do século XX, trouxe a temática circense para a esfera das artes plásticas, aproximando-a da elite das artes.

Fernand Léger nasceu em fevereiro de 1881, em França, filho de um criador de gado, numa realidade bem distante das artes. Ainda assim, desde cedo soube que a sua vocação passava pelas artes e começou por estudar Arquitetura, entre 1897 e 1899. Em 1900 trocou a Normandia pela cosmopolita e artística Paris e estudou na Academia Julian, ao mesmo tempo que acompanhava algumas aulas na Escola de Belas Artes (onde não foi oficialmente aceite), naquilo que considera “três anos vazios”.

Começou a pintar regularmente com 25 anos, à data profundamente influenciado pelo vigente impressionismo. No entanto, a visita ao Salon d’Automne, em 1907, e a descoberta do trabalho de Cézanne, abriu-lhe as portas da geometria no desenho – primeiro passo para descobrir o Cubismo.

Curiosamente, foi no Salon d’Automne, três anos mais tarde, em 1910, que Léger expôs a obra que viria a projetá-lo numa elite artística – “Nus Dans La Forêt”. O francês associou assim o seu nome aos percursores do Cubismo, bem como do Abstracionismo, movimentos aos quais ficou indubitavelmente ligado, juntamente com Braque e Picasso, explorando as suas diferentes expressões e chegando mesmo a lecionar artistas como o português Nadir Afonso.

Apesar do sucesso da sua carreira, foi já na reta final, nos anos 1940, quando tinha mais de 70 anos, que Léger recebeu uma proposta que viria a marcar a sua herança artística. O editor Tériade – que já tinha desafiado os também artistas franceses Georges Rouault e Henri Matisse – propôs a Léger que criasse também ele um livre d’artiste, uma espécie de bíblia da arte para a altura. O criador do “Le Cirque” optou por não reproduzir trabalhos já existentes, mas antes criar mais de cinquenta obras inéditas e ainda textos, todos dedicados ao circo e à vida rural. A versão original deste “Le Cirque” teve apenas 280 cópias e é considerada, ainda hoje, como o maior legado de Léger. “O que é o circo senão uma máquina que produz círculos? Acrobatas, cavaleiros, bicicletas, palhaços, animais… num redondel perfeitamente circular”, disse à data sobre esta obra, reforçando o paralelismo entre a geometria e o circo.

É precisamente esta obra única que serviu de inspiração para a presente Exposição a “O Circo de Fernand Léger”, que entre 6 de setembro a 22 de outubro, vai transformar o NorteShopping na maior montra da arte circense, com uma exposição permanente do próprio mestre francês, Léger, composta por uma série de 52 litografias (em 29 quadros), originais e assinadas, bem como outras exposições temporárias, performances e debates, naquela que será a maior mostra de arte circense que já viu. Contamos com todos, meninos e meninas!

Tudo o que precisa num único espaço