“As mudanças profundas fazem-se com pequenos nadas”

Lido Palma, diretor da Karacter Agency, coordena os fashion advisers que estão presentes nos Fashion Days. Estivemos à conversa com ele para perceber melhor a função de um consultor de moda.

Durante os Fashion Days, os fashion advisers estão por todo o lado. De manhã, são eles que guiam os clientes, ajudando-os a encontrar o look perfeito para cada corpo, estilo e situação. À tarde estão em várias lojas a aconselhar os clientes que por lá passam, tornando a visita à loja ainda mais agradável.

Para perceber um pouco melhor a importância de ter um consultor de moda ao nosso lado na hora de ir às compras, estivemos à conversa com Lido Palma, diretor da Karacter Agency e coordenador da equipa de fashion advisers com que pode contar durante os Fashion Days.

Qual é o papel de um Fashion Adviser?

O nosso objetivo é adequar as tendências de moda e as propostas que existem no mercado ao estilo de cada cliente de forma personalizada, porque nem tudo o que está na moda nos fica bem, e os clientes têm alguma dificuldade em fazer compras assertivas. Um personal shopper é, portanto, aquela pessoa que descobre as peças-chave, as peças de fundo de armário, os básicos, as peças-oportunidade, e que orienta o cliente numa lista de compras organizada e coerente para que se consiga um guarda-roupa harmonioso e em equilíbrio com a sua personalidade.

Mas o seu objetivo passa também por um lado mais pessoal, de ajudar o cliente a ter mais autoconfiança. Como vê este lado?

Sem dúvida. A roupa é uma segunda pele, e a primeira tem de transmitir os valores da própria pessoa e por isso o nosso é sentir a energia do cliente, a sua personalidade, saber para onde é que o cliente caminha em termos emocionais e trabalhar um bocadinho a autoconfiança, porque as pessoas muitas vezes que vêm às compras connosco são inseguras, têm traumas.

Lembra-se de algum caso em particular?

Lembro-me por exemplo de uma senhora que não usava saias, porque desde criança que diziam que ela tinha pernas de canivete, era a alcunha dela, o canivete. Quando comprou a sua primeira saia comigo, foi uma metamorfose. O próprio marido é que o comentou, dizendo-me que houve uma mudança total na personalidade da sua mulher, graças à minha capacidade de argumentação que fê-la descobrir que tem umas pernas maravilhosas que ela não via no espelho e que passou a ver.

Nota, por vezes, alguma reticência por parte dos clientes em aceitar aquilo que lhes propõe?

Não noto, porque partimos sempre do princípio de respeitar o cliente. Ou seja, o estilo do cliente, para nós, é o seu património, nós nunca impomos mudanças radicais. Aquilo que fazemos é, com base na elasticidade que o cliente nos permite trabalhar, construímos e vamos sugerindo. Deste modo, vamos sentido se o cliente se sente confortável ou não, porque, nas minhas mãos, tem que se sentir 100% confortável com o que experimenta. Mesmo que eu ache que fica fantástico e que seria perfeito para o cliente comprar aquela peça, pergunto sempre “como é que se sente com esta peça? Como se vê?” e se o cliente não se sentir bem ou não gostar, eu automaticamente mudo para outra peça que o faça feliz e com que ele se identifique. A moda diz “make it yourself”, ou seja, sê tu próprio, descobre-te, através das propostas que existem. A moda hoje é indicativa e não impositiva.

Nestas escolhas, por parte do fashion adviser, têm em conta o estilo atual da pessoa, mesmo que o cliente precise de uma mudança radical?

Sim, porque as mudanças profundas fazem-se com pequenos nadas. Não se deve ter a pretensão de mudar radicalmente uma pessoa, isto seria desrespeitar o seu ADN. Temos de perceber o ID do cliente, de faze-lo despertar. Fazê-lo tomar consciência, por exemplo, de que tem de emagrecer ou engordar, cortar o cabelo, cuidar da pele ou mudar hábitos de vida. Isto são questões práticas que lhes dou, mas tudo isso é uma orientação sugestiva. A pessoa vai utilizar estas dicas e orientações ao longo da vida, numa mudança diária. Às vezes chegam-nos à frente seis meses depois, pessoas totalmente diferentes daquelas que encontramos na primeira consulta.

Temos falado sempre em renovar o guarda-roupa, mas também tem clientes que procuram ajuda para um look para um evento específico?

Também temos, sim, e com desafios muito interessantes. Por exemplo, pedem-me para os vestir para um casamento por 100€, e isto é um desafio fantástico, porque temos de fazer a adequação perfeita entre o budget do cliente e as lojas que têm o produto certo para servir aquele cliente de acordo com aquele budget. Este é um trabalho de pesquisa prévia, que exige aprofundamento e conhecimento perfeito de todos os produtos que existem em todas as lojas do centro para não fazer o cliente perder tempo e para concretizar o desafio que é servir o cliente de acordo com o budget. O resultado é maravilhoso. Muitas vezes surpreendemo-nos com um look total por 100€.

A que faixa etária pertencem os clientes que mais procuram a sua ajuda? Eu diria que é entre os 30 e os 40 anos de idade. São principalmente senhoras que foram mães há pouco tempo, ou que querem fazer um upgrade no seu guarda-roupa porque mudaram de emprego ou porque têm um cargo mais importante e, como sabemos, a indumentária é um status, a moda ajuda-nos a criar este status de afirmação e portanto os primeiros cinco segundos – que nos dão a primeira impressão – é determinante sobre uma pessoa. Às vezes a pessoa menos inteligente, mas com a melhor imagem, tem muito mais sucesso do que a mais inteligente mas com pior imagem.

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